quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O ofício do JORNALISMO




No início do século XVII, o padrão do texto informativo era o discurso retórico, aplicados desde tempos remotos para a exaltação do Estado ou da fé. Junto ao aparecimento das línguas nacionais europeias vieram seus grandes autores literários: Camões em Portugal, Cervantes e Quevedo na Espanha, Shakespeare e Milton na Inglaterra; Racine e Molière na França - eram as formas que se buscava imitar.

Com o surgimento da Revolução Industrial, o exercício do Jornalismo mudou significativamente em relação às condições que era produzido, a organização do trabalho e a expansão do comércio exigiam grande número de administradores, operários e técnicos, de preferência, alfabetizados. Por todo esse acontecimento, as tiragens dos jornais se multiplicaram, e para que fosse possível produzir um grande número de exemplares, a mecanização - chave da Revolução Industrial - chegou à indústria gráfica. Surgiu no início do século as impressoras rotativas de grande capacidade.


Em consequência da mecanização o custo de produção dos jornais aumentou e já não eram financiados pelos seus leitores, como antes: emergia o mercado publicitário e com ele a ligação da imprensa com os interesses gerais da economia. Precisavam de anúncios e estes dependiam do número de leitores. Por isso era indiscutível a necessidade da mudança no estilo das matérias que eram publicadas, a retórica do jornalismo publicista era incabível para os novos leitores, sucessores da tradição de uma cultura popular mais objetiva.

O Jornalismo dessa época pode ser classificado em duas vertentes:

a) Educativo - ensinava às pessoas o que ver, o que ler, como se vestir, como se portar. Exibia os bons e alardeava os maus hábitos dos que ostentavam o poder.

b) Sensacionalista - para que se cumprisse a função sociabilizadora, educativa, era necessário atingir o público, envolvê-lo para que lesse ate o fim e se emocionasse. A realidade deveria ser tão apreciada quanto a ficção, e o modelo para isso era a literatura novelesca: sentimentalismo para as moças, aventura para os jovens; o exótico e incomum para todo o povo.



A REPORTAGEM E SEU APARELHO: O REPÓRTER

Se perguntarmos às pessoas quem é a figura humana representativa do Jornalismo, a maioria responderá: O Repórter. Se questionarmos aos jornalista quem é o mais importante na redação, ele dirá: o Repórter.

O jornal que publicasse o relato de um fato de interesse público antes que seu concorrente, consequentemente ganharia a preferência dos leitores em geral para as próximas edições. Desse modo, descobriu-se a importância dos títulos que são como anúncios do texto, e dos furos, notícia em primeira mão.



Conflitos eram inevitáveis, à medida que a figura do repórter se definia, já não se podia tratar os protestos como caso de polícia, desviar fundos públicos ou massacrar o povo sem que a população soubesse. Os repórteres passaram a ser bajulados, temidos e odiados. A reportagem pôs em primeiro plano novos problemas, como distinguir o que é privado de interesse individual, o que é público de interesse coletivo, o que o Estado pode manter em sigilo e o que não pode; os limites éticos do comércio e os custos sociais da expansão capitalista.


Fundaram-se os cursos superiores de Jornalismo e obtiveram por meio da pesquisa acadêmica padrões para a apuração e o processamento de informações. Determinara-se que a informação jornalística deveria reproduzir os dados obtidos com as fontes, que os testemunhos de um fato teriam que ser confrontados uns com os outros a fim de se obter a versão mais próxima possível da realidade - a lei das três fontes: se três pessoas que nunca mantiveram contato contam a mesma versão de um fato que presenciaram, esta pode ser tomada como verdadeira - que a relação com as fontes deveria basear-se apenas na troca de informações e que seria necessário, nos casos controversos, ouvir porta-vozes de diferentes interesses em jogo.


A notícia ganhou sua configuração atual, copiando o relato oral dos fatos singulares, que, desde sempre, baseou-se, não na narrativa em sequência temporal, mas na valorização do aspecto mais importante de um evento. No caso do texto publicado, a informação principal deve ser a primeira, na forma de lead - tempo, lugar, modo, causa, finalidade e instrumento. Desencadeou-se uma campanha uma campanha permanente contra a linguagem retórica e destacou a importância da ética como fator de regulação da linguagem jornalística.



O repórter está onde o leitor, ouvinte ou espectador não pode estar. Tem uma concessão ou representação implícita que o autoriza a ser os ouvidos e os olhos remotos do público, selecionar e lhe transmitir o que possa ser interessante. Esse encargo pode ser determinado como agente inteligente, isto é, ter autonomia, operar sem intervenção direta de seu contratante; ter habilidade social, ou seja, interagir com outros agentes, desenvolvendo, para isso, competência comunicativa; ser reativo - perceber o meio que atua e responder em tempo aos padrões de mudança que ocorrem nele; e ser capaz de tomar a iniciativa, comportando-se de modo a cumprir sua tarefa.


Quanto à inadaptação aos interesses dos leitores, o problema surge quando o jornalista trabalha em veículos com propósitos a grupos de pessoas diferentes dele mesmo - diferenças de classe social, etárias, culturais ou de hábitos. Comumente a referência para se saber o que o leitor gostaria de ler são pesquisas de opinião, quantitativas (estatísticas)ou qualitativas (em grupos menores que aprofundam um tema). 




BIBLIOGRAFIA
LAGE, Nilson. A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística

Nenhum comentário:

Postar um comentário